ALTA DA BAIXA ESTIMA


            Não é um erro intencional, por a tê-la chamado de baixa, pois o acometido fica tão a baixo que se torna intransponível para ele qualquer questão afetiva, portanto, alta no sentido de aterrado, atolado. Então essa é uma mera conceituação prematura ou infeliz por ser precoce. Mas é uma tentativa de conceituação dos desejos inconscientes impressos potencialmente nas sintomatologias das ideações fixas, nas manias persecutórias, histerismos e provavelmente em algumas manifestações depressivas.
 Observe-se que não me refiro diretamente a patologias e sim as suas manifestações, sua sintomatologia e, isso não é o mais importante para o que quero argumentar. O interessante, parte da sociologia do modo em que supostamente nos condicionamos a vida em sociedade, ao que dizem que aprendemos a ser mulher ou homem, ou seja, humano, ‘com-vivendo’ com o outro.
Eu não sou quem penso, ou quem pensas que sou; muito menos, possivelmente, eis quem pensas. Somos fruto de quem nos desenhou o cotidiano, no gozo ou no amargo, ambos nos são embutidos, ou somos a eles concatenados. Aponto o que se expressa nas sintomatologias supra, o que suponho ser a base potencial do mal de nossas patologias socioafetivas. Isso pelo mero fato que somos quem não queremos, consciente ou inconscientemente.
Podemos tentar conceituar. Alta, pois sua estruturação afeta incondicionalmente suas vítimas de modo a reduzi-las a insignificantes dependentes deste estado. Ela parece estimular o indivíduo a um suposto prazer masoquista, a um ciclo ocioso, da qual sua seara é o vazio.
Ela basicamente é baixa ao condicionar a vítima a uma supervaloração egóica, um narcisismo estremado, ao ponto que a personalidade é magnetizada a uma apatia a estímulos externos.
Obviamente, por fim refere-se à estima, o reconhecimento do eu. Mas esse fica em suspenso, o reconhecimento ou existência deste não é questionado. Em um processo de cura os autoquestionamentos levam o subjetivo a percebe como um Grandes Outros (pessoas significativas),mesmos esses sendo encarados como mais frágeis e insignificantes que seu produto (a pessoa em questão) a formou, e pior com tais fraquezas.
Tal descoberta atrelada a essa fraqueza diagnosticada pela pessoa que quer negar esse condicionamento social, torna-se a base da efetivação do “quebra dos deuses” venerados ou odiados. É a terapêutica do encontro do vazio, que de tão “alta baixa estima” não pode ser preenchida, apenas e, assim melhor que o seja, resignificada.
Para obter êxito em tal autoprocedimento  necessariamente deve ser iniciada, se é possível ocorrer cura, pela a auto – aceitação, de está em perene, se não tratada, patogênese ( o alto comprometedor da estima). Quer-se dizer, conviver com crise da não aceitação do eu construído sem o consentimento ou percepção do vitimado. Mas uma crise necessária do mal da autonegação, esse é o início do fim.
Pode-se apontar necessitados desse  processo de autoanálise os que possuem sintomas que se escondem nas posses materiais, negando o ser ( posses subjetivas, as construções do eu verdadeiro), ou seja, os que assumem os seus papéis sociais  em detrimento do seu eu’s, não se vêm no espelho subjetivo, nesse só percebem os objetos construídos socialmente para eles atuarem, nunca nasceram efetivamente.
Assim sendo a estima não necessariamente não é sua. Foi construída para e, quase nunca, com a pessoa em questão.
Se assim ocorreu e ocorre pode explicar porque a negação do eu no plano real, prefere-se a alienação. Nega-se os dramas, prefere-se as comédias.
Os dramas em processo resolutivo dos sintomas, que sinalizam para a libertação, quase sempre somatizados advém do não confrontamento com o real. Adoece-se psicossomaticamente, portanto. Isso a posteriori das relações sociais com o Grande Outro que nos castra a descoberta de nós mesmo, nos comportamentos que por ele condicionados. Adoecemos por fim da descoberta de sabermos que podemos ou não sermos nós mesmos, ou pela crença doente do desconhecimento de não sabemos de tudo isso.


           

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