A MORTE: A BELA EXPRESSÃO DO AMOR




            A vida é um dos maiores indícios da eloquência, pois expressa o inexplicável amor do Imponderável, e ao mesmo tempo, no comportamento da humanidade um gritante mostruário de nossa pequenez de homens e mulheres. Talvez essa discrepância entre os opostos nos leve a nos prostituir violando o mais belo dela: o amor. Isso devido a nossa fragil e medíocre percepção do valor da vida. Explico-me.
            Ao nascermos nos constituímo-nos tão imaturos, não só porque a maioria de nos choram, quando deveríamos sorrir. Esse simples comportamento parece sinalizar que não queremos deixar de sermos os parasitas de nossas respectivas genitoras. Continuamos a chorar subornando a todos para acessarmos prazeres cada vez mais hedônicos.
            Ao adolescer, já estamos aptos a roubar a consciência dos que nos amam. Um exercício de amor invertido ou fugaz. Como bons filhos, aprendemos os exemplos de nossos pais o medo de viver coligado com a liberdade: É o que mais condenam na juventude. Chega-se à idade adulta dotados de todos os vícios capazes de negar o sopro do Imponderável sobre cada um de nos negando a vida em detrimento do trabalho: Nova versão da escravidão. Talvez sintoma da síndrome de pequenez. Quando chega a velhice, lamentamos as feridas de nossas drogas ou reclamamos do vazio por elas deixado, como marca determinante dos vícios: o medo de morrer sem nunca se ter visto nascido um dia que tenha dado prazer real, esse sem ser uma vaga lembrança das fugas.
            Ora, perdoem-me o fruto da vida a partir da mentira do falso amor que nos é ensinado, expressos nos vícios do suborno na infância. Na adolescência cegam- nos ante as frustrações do prazer imediatista amplificador do vazio. Assumimos ser mortos vivos convictos na vida adulta e, por fim, choramos sobre nossos cadáveres na velhice.
            O que realmente perdemos, desde a infância, é o amor, pois esse nos é ensinado desde tenra idade com uma máscara da falsidade. Os nossos pais nos ensinam sobre a tutela da posse, “esse é meu filho”, esse que nasce já vem a um mundo preconcebido. Aprendemos o amor do consumista, que cada vez mais quer comprar uma doce mentira da sublime manipulação. Na qual se a negarmos, a tal bitola, o amor cessa e somos tidos   como a “ovelha negra” – como se negra fosse a única fonte da alcunha do mau.
            Crescemos com o medo de frustramos ou não os nossos pais, que nos ensinaram suas mentiras apreendidas com a cultura de submissão e escravidão que um dia eles mesmos odiaram, mas fracos se renderam. Percebemos cedo ou tarde - se não formos tão doentes - a grande mentira, pois o amor não tem preconcebidos ou limites morais ou determinantes comportamentais, apenas é. É o que nos une e pode nos libertar de não nos amarmos sem amaras ou princípios. No início podemos até aceitá-lo, depois necessariamente o negamos: Muitos se rebelam. Poucos, os bons, revolucionam. Muitos não, chegam a cogitar revolução, mas de maneira supérflua. Com o fim da puberdade – se é que ela cessa – utilizamo-nos dessa mentira do suposto amor para sobreviver nesta selva chamada civilização, leia-se mundo adulto de poucos seres realmente maduros.
            Poucos, sim. Pois muitos adolescentes são ceifados física e emotivamente, enquanto poucos custam e diversos não amadurecem nunca. Esse fato piora se não tivermos uma reflexão básica advinda do verdadeiro amor, que incondicional é paciente e aético. Entenda-se por esse conceito de aética, penso em uma ética destituída de qualquer discriminação, preconceito ou moral, quero pensar uma ética divina, que pode sugerir nossa redenção. Ela tem como base o sentimento mais nobre que ainda não o concebemos: o amor.
            Ao chegar à velhice, quando se mostra toda a doença vivida, pode ser sintomatologia deste frustrante insucesso longitudinal, o amor trágico e carente. Ora, por tê-lo conhecido incompleto ou não verdadeiro; melhor, incompleto não existe. O amor não é calculado, ou dimensionado, ele está acima de todas as gerações conceituais. Se a velhice foi resultado de um falso sentimento, o que, aliás, é mais comum, vive-se como os cadáveres saudosistas de algum resquício desse verdadeiro sentimento. Se o velho é carrancudo, provavelmente ele foi vítima do oposto do amor mesmo que não verdadeiro, o ódio. Refiro-me ao não verdadeiro, pois o amor verdadeiro não tem como indicar seu oposto, pois seria inconcebível a nosso pensar e se ele existir, provavelmente resulta em guerras em suas faces mais miseráveis.
            Por fim, cito que podemos perceber o chorar ao nascermos como sinal de vida, de autonomia e de liberdade atreladas a todos as suas benesses, porém com suas responsabilidades da manutenção das dádivas divinas. Mas nos ensinam a negar esta ferida: a vida é impregnada da morte, vivemos e já morremos. Quero dizer-lhes, que a morte é nosso maior motivo de gratidão deixada pelo Imponderável, é sinal de que precisamos viver sem macular o que Ele nos deixou impregnado no sopro de vida: o amor. E assim apenas nascem e morrem, não vivem, por não aceitarem o amor.
           
Agradecimentos especiais à corretora gramatical M. Cheng.

Comentários

  1. a morte, expressão da beleza da vida de quem aprendeu o sentido do sopro divino em cada ser vivente.

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