NOVA UTOPIA MILENAR

Solidão
            Esse ‘presente de grego’, cauterizador de um sofrimento silencioso, quase, em lapsos de sua presença fria, enlouquece-me. Sei, ela é dádiva resultante de um desejo insustentável e, em muito, inconsciente. Mas nela ainda, insipidamente, encontrei-me, talvez ela me suicide aos poucos, porém, se for o caso, a isso me abracei não em parcimônia.
            Por outro lado, e por isso, penso em morrer ao menos para esse mundo - para viver nele e com ele - ou cegar-me e, aos poucos, perder os sentidos os quais me levam ao desesperante impudor, porque penso em não fazer, atuando como hipnotizado. Adormecer-me, então, essa é ainda a única forma, mesmo impositiva, que vejo como plausível para lidar com essa degradante situação. Diminua-me, então, para viver em mim, algo mais aglutinador e não escravocratamente segregador.
            Podes condenar-me alienado? Mas como viver em sociedade quando você apenas lida com ela,  subordina-a e a deseja aos seus mais escusos e até odiosos prazeres. Não seria para vós cético/a leitor/a, uma evolução negar-se crápula e, respeitar ao próximo?       
Morte
            Então como não louvar a ela. Ao menos duas vitórias nesta batalha poderão ser efetivadas.
            Ou me uno ao mundo em mais de bilhões de grãos. Desse modo estarei espalhado pelas partes belíssimas desta magnifica obra chamada terra. Poderei assim vislumbrar as lindas paisagens naturais, que o paco recurso presente,proíbe-me de conhecer.
            Ou ainda, creio na fé de possíveis deleites de uma vida - menos mau -  que esta atual. Coisa que acho não ser impossível de ocorrer. Visto que esta aqui é sempre aliviada por outras dores. Sendo estas últimas cada vez maiores e as primeiras tornam-se insignificantes. E de tão insignes, mas atualizadas, deixam-me dormente.
            Não sei se por minhas forças e vivências sobreviverei, ou por fim, destas dores quem há de me socorrer?
            A solidão é um deserto que aquece e me consola. Todos precisam de uma alienação, outros de utopias. Ao menos se sonha nessas. Eu tenho uma, jogo-a demais ao mar da consciência. A minha é uma promessa que me consola, mesmo em pleno cair a um vazio infindo da solidão que nem sei qual é!
Utopia
            Depois de diversas respostas, subprodutos de deleites e prazeres artificiais, de pesquisas e conhecimentos, de religiões e espiritualidades, tudo ao vazio parece-me precipitar. Enfim, a autoanálise (viver imerso em suas dores e com elas levitar) trouxe-me uma verdade, ‘tudo é vaidade, vaidade das vaidades’.
            ‘No mundo tereis aflições’, as de todos os desprezos, torturados por tentar ser um ser melhor, e assim nunca poderás descansar. Não existe maior prisão que a da alma. São nestes ambientes que se operam a minha utopia e, mesmos tristes e inóspitos espaços onde fenomenologicamente surge o milagre, como uma gota suavizando o ardor no deserto. Consagrar meu corpo é minha redenção, então o consagro.  Ele é tudo que tenho e o mesmo que dedicarei a minha reconciliação, minha religação. Mesmo que parece religião (religação, etimologicamente), meu corpo é tudo o que a mim foi dado e constituído, não posso ser melhor para externo, poderei ao menos, ao interior, onde me abrigarei e serei mais feliz. Se me fizer bem, esta luz reverberará, inevitavelmente, como espectro ao outro.
Não é ser melhor que me negará a necessidade de cegar ou não sentir a maldade das almas humanas. E sim, amar a mim, respeitando o que tenho e sou. Como posso amar se não a mim? Senão toda minha verdade será incompleta. Serei inconstante, pois quem não se quer bem oscila entre o sofrimento e a desesperança. Seu corpo ‘templo e morada’, de tudo ou do todo, que se autoafirma ‘ Eu Sou’. Essa é minha utopia. Religar-me a esta dimensão, a partir do amor que foi dado a mim: o corpo.


Agradecimentos à corretora gramatical, M. Cheng.
Pedro Paulo, Psicólogo e ativista em Direitos Humanos.
Camaragibe, Pernambuco, Brasil,25 de fevereiro,2012.

Comentários

  1. Lembre-se que Deus nos criou para viver em harmonia uns com os outros " amar o próximo como a si mesmo", e não para uma vida isolada de tudo e de todos.
    “Então o Senhor Deus declarou: ‘não é bom que o homem esteja só; farei para ele alguém que lhe auxilie e lhe corresponda’” (Gênesis 2:18 NVI)
    Rainer Rilke, no livro “Cartas a um jovem poeta”, destaca que a solidão é cheia de fascínios e que precisamos visitá-la sempre que precisarmos de certas respostas. Contudo, ele também alerta que não podemos abrir mão do convívio com aqueles que são importantes para nós. Diante disso concluo que há momentos em que precisamos ficar sozinhos – mas não por muito tempo. Pense nisso!
    Não importa quão difícil foram os dias passados, lembre-se que Deus sempre nos dá a dádiva de um novo amanhecer.

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