ESCRAVAS OU LIBERTÁRIAS, GRITOS QUE ECOAM DO DIA 8 DE MARÇO




            Quem não sabe que as mulheres, em um dia dos idos ‘tempos modernos’, presas em um galpão insalubre de costura, onde foram queimadas vivas, salvo engano, hoje se enganam em comemorar um dia desses.
            Na realidade é dia de reivindicação e contestação, porém tudo é transformado pela sociedade consumista em enlatados e vendidos com o cunho de final feliz.
            Por outro lado, venho conclamar as atuais mulheres a reafirmarem suas causas libertárias e questionarem que liberdade está sendo-as provocadas.
            Bem, conclamo-as ante a necessidade de empoderamento dos direitos afirmados legalmente, mesmo que carentes de efetiva internalização por parte da sociedade, e mais ainda das próprias beneficiadas. A título exemplificativo,apresento-lhes a Lei Maria da Penha  (lei nº 11. 340/2006) , que ao combater a violência doméstica, especialmente contra a mulher, pretende inibir tal arbitrariedade historicamente atuada pelo homem machista. No entanto, a mulher precisa possuir forças para denunciar o agressor. E, em meios a sentimentos antagônicos e desestabilizantes, ela sente-se mais (des)empoderada e, na maioria das vezes, desanimava em meios as frustrações dos atores sociais.
            Fato que provavelmente advinha do desatrelamento da lei fria, com a estrutura psicológica de pessoas que constituíram suas personalidades e seu desenvolvimento em meio ao ambiente insalubre. E, não sendo esse processo sadio, elas são levadas inclusive a internalizarem as violações como justas e adequadas, ou seja, um movimento masoquista e/ou autopunitiva. 
            Por outro lado a mui se luta pela equidade de oportunidades. Penso que paralelo a efetivação dessa igualdade, no tocante ao acesso, deve ser de extrema importância a militância e as beneficiadas se alimentarem, não necessariamente de um ceticismo, mas pelo menos de uma criticidade indispensável a todo fenômeno social.
            Afirmo isso, diante do fato, que mesmo o homem, por exemplo, sempre foi entronizado no suposto poder e ele também sempre foi quem mais sofreu a partir de situações correlatas à escravidão, nascidas do mundo do trabalho. Isso vai desde pequenas sintomatologias depressivas e compulsivas (como uso abusivo de psicoativos, especialmente o tabaco e o álcool) a situações letais imediatas a si mesmo e contra os seus, principalmente os mais frágeis, primeiro as mulheres e os filhos, ou melhor, violentadas física e psicologicamente e ambas com ambas impressas na alma dos três.
            Claro que me acusas de machista incrustado, mas pensemos: o homem mesmo antes de (des)entronado já erra ferindo os mais frágeis, quem estava ferido e acuado em seus trabalhos, em suma, em sociedade. Parece-me que eles sintomatizam ao perceber que eram usados como massa de manobra, em forma análoga à escravidão para enriquecimento de pequenos grupos. E quanto mais trabalhavam, mais esse fenômeno piorava, ou melhor, piora. E imaturo, aprendia que arbitrar de maneira insana era a forma de dominar e castrar o desejo alheio. Esse processo, possivelmente inconsciente para a maioria deles (os menos adoecidos) e conscientes para os mais perversos, internalizaram tal manobra macabra de viver.
            Mesmo correndo o risco de ser apontado ou não como defensor da causa masculina, prossigo com a suposição de que o movimento feminista precisa aportar em seus discursos e bandeiras, ao menos, em países em desenvolvimento, há uma afirmativa de qualidade de vida com uma cultura de paz. Isso em resposta ao adoecimento que tentei apontar ao referir-me ao processo de uso e abuso no suposto poder concebido a nós homens.
            Para tanto, partindo das inovações iniciadas com as bandeiras feministas, no que concerne a abertura para outras questões historicamente veladas, quero crer que ainda é possível essa cultura de paz. Porém, ela não se inicia pela questão de acesso ao poder, isso porque não a temos, nem nós homens, como tentei mostrar que eram escravizadas, como também, ela é usada como questão para as mulheres a acessar. Doce e cruel ilusão. O poder está nas mãos de quem detém as regras comerciais. Isso é fato, os países se submetem e se ajoelham as tais ditames.
            A nós todos, os homens, fomos alienados. E vós mulheres, não podem continuar a sê-las. Vossa força está em harmonizar a partir dos questionamentos e até no ceticismo. Digo isso pensando que há muito vocês se submetem a ser usurpadas em seus direitos, não por fraqueza, mais por força, ao ponto de resistir à tentação de revidar com as mesmas armas. E ainda, após perceberem que não estavam sendo mais o eixo de caminhar em buscas da harmonia assumiram o fronte (da infantaria) de novas percepções. Vosso silêncio, na história, ecoa como liberdade.
            Então, pretendendo que no dia 8 de março seja lembrado não só das mortes ditadas por essa sociedade de hierarquias e poder falacioso, mas sobremodo a possibilidade de fazer esboço de novas batalhas, que creio que não deva partir de mentiras, como a busca ao poder, pois a economia tem sido a mentira dita cem vezes para salvar nossas vidas. Assim precisamos viver, na base da fraternidade, como pau de bandeira. A igualdade de rubro sonho chamado liberdade apenas se conquista com lutas permanentes de negação de nossa objetação (coisificação), no tocante de nossos desejos de crer no amor.
             Todavia, não um amor do sim da aceitação pela acatada sem questionamento, e sim o amor de dizer não aos errôneos princípios que nos alienam de nós mesmos. E também propagar um sim permanente a possibilidade de vermos o velho brasão da utópica triangulação de igualdade, liberdade e fraternidade.
Utópica pelo fato de que é possível e necessário sonhar. Não podemos deixar de crer que poderemos romper os ditames da exclusão. Pois parafraseando um poeta e um profeta visionário, “Deus quer, o homem sonha, a obra nasce” e “um sonho só é apenas um sonho, mas um sonho sonhado por muitos, torna-se realidade”, respectivamente de Fernando Pessoa e o saudoso e libertário nacionalista Dom Helder, o sacro ‘Dom da paz’.

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