ESTRONDO DO SILÊNCIO


O mais ensurdecedor das poluições sonoras é gritantemente o silêncio. Ele é a maior semelhança do morrer. Mas desta vez não cultuarei a este. Clamarei pelas minhas pulsões de vida. No entanto, elas poderão aparecer em formas mórbidas, todavia, em sintonia com o princípio do adubar de novos paradigmas.

Poluições sonoras são insignificantes diante de um vazio. Quem já efetivou uma fuga para ambientes mais rústicos e isolados poderá entender melhor o que aqui pretendo expor, desde que essa ação foi motivada por uma necessidade extrema de se isolar. E, ainda, essa precisão tiver sido provocada por uma certeza de ser sozinho. Na constatação, diante do fato, de não ter ninguém que me procurou por toda sua vida, nenhuma pessoa disse–me quem e porque sou, se fui pensado, ou se minha maternagem foi planejada ou acidental. Lembro-me de meu pai, apenas por um lapso de machismo, e a da minha mãe por uma cicatriz que em ‘v’ hoje é reta de tão antiga deixada por um beliscão por conter meu desejo de vida e por causa disso fui castigado.

Posso dizer, se existe algo de mera semelhança com a morte é não saber sua própria história de vida. Não pelas dores do pouco que não foi jogado ao inconsciente por ser altamente letal, mas porque o inconsciente, para nos proteger, tende a apagar (mesmo que parcialmente) tal possibilidade de reviver a ferida. O problema é que ele falha, ora em atos falhos e chistes ele fraqueja. Antes ele não me poupasse. Porém, não sei, realmente, se preciso louvá-lo pela sobrevivência.

Mesmo assim, creio que amadureci às pressas, isto é, penso que sou maturo. No entanto, se ainda sofro não sabendo sublimar as feridas que já conheço, denuncio que apenas coloco essas demandas em favor da minha socialização e até para trabalhar empaticamente com os sofrimentos alheios.

Por outro lado, isso não responde o que fazer com minha, solidão tão necessária, ao ponto de ter que ouvir o silêncio tão fortemente que penso que enlouquecerei, isso se já não fui agraciado por qualquer devaneio, coisa que não duvido. Tateio na noite silenciosa, ferido apenas pelo assovio do vento a me condenar, que apenas só deixo de ser o que me ensinaram. Entretanto, não quero mais esse eu que conheceu perda, desilusão e medo. Quero essa parte negada e o que posso dela (re)significar. Como querer ser um eu, que foge para não conviver? Então quero viver sem o medo da dor. Essa é a pulsão de vida. Dor em vida.

Pulsões de vida são sintomatizadas nessas constatações. Na realidade, por mais hedionda que possa representar o barulho do silêncio, foi ele que me confidenciou que hei de sair deste tormento pela porta do caos em que me meti. No quase embaraço da loucura de uma vida longe da civilização, parece que tocava uma doce música que se chamava, e ainda é, solidão. Ela responde que não pode haver saudade quando tudo é dor. E a morte é valsa dançada sozinho, mesmo sentindo alguém lhe guiar. Todavia do doce dessa música é que se revela a morte, nega-se a vontade de viver, e geralmente a parte sofrida dela, caso contrário, quereríamos a eternidade, sem titubear. Mas não, e isso não seria esse princípio de pulsão de morte, o de usar a máscara da vida para aos cegos ludibriarem?

Então, desde essa constatação, vivo consciente de criticar que tudo é vago e opaco, se se não tirar o prazer do escasso momento que o amor se apresenta.  Mas amor na dor é uma percepção mórbida de se viver, heroicamente e realizando uma utopia possível.

Formas mórbidas advêm desta percepção que vivemos em fagulhas, resquícios de uma vida que ainda há por vir ( ao menos para mim). Pois, na doce ilusão, cativamos na nossa memória a esperança de um futuro melhor, sabendo que é muito improvável ele se apresentar. Já morremos ao nascer, então morramos dignamente. Para que chorarmos a cada passo? Para que lacrimejarmos pelo suspiro perdido? A dor não vivida? Pois tudo nessa última assim se afiança. Então vivamos não contabilizando os nãos ou sins, e sim os risos até de nossos dessabores. Sim, ria de suas dores e para que elas sejam mais suaves, se as foram dadas, então dê graças, sobretudo, que ao rir de suas dores, a título exemplificativo sinalizaras que tudo tem um pouco de cômico, mesmo as mais trágicas situações, podem lhes trazer certo tom leve, pois sabemos que o fim é inevitável, então todo o sofrimento é morrer mais depressa.

Se tu reclamares, morrerás mais cedo. Já percebeste que o palhaço só é feliz atrás da máscara? Então porque ele precisou usá-la?  A felicidade estava dentro dele ou no exterior da máscara? Passando pelo crivo da sinceridade infantil, afirmo que se a verdade da alegria do circense fosse superficial ( como a máscara) ele não cativaria as crianças. Então, os verdadeiros brincantes têm a felicidade nata e não adquirida do externo. Então tirem suas máscaras, e se não fores um brincalhão serás um bom dramático. E seja feliz sem a máscara que te castra roubando tua verdade. Ou então serás presa fácil para oportunistas.

Quero, portanto, adubar novos paradigmas, e é isso para o que ti chamo. Não tenhas medo da cara limpa. Podes usar a máscara, mas dela não se pode ser escudo, ela sim o é. Socialmente e assim, as contradições desta sociedade aplicam-se a concepção de mentira social. Esse é o ingresso para que se tornes fantoche no grande teatro da vida. Saibas que se aventuras a partir de meias verdades serás sempre coadjuvante da história de terceiros e viverás sempre atrás da máscara e nunca poderá ver teu real sorriso, e assim teu real valor, nem ele tu mesmo podereis desfrutar (bobamente traz relativo prazer), pois serás mera marionete do desejo do outro.

Precisas ter teus desafetos contigo ou as tuas alegrias serão apresentadas e aprisionadas nos braços dos outros. Eles ti apresentam os desafios que tenhas que vencer. São os paradigmas alheios que guerreias. Precisas enfrentar tuas dores e teus medos, esses são os teus paradigmas e tuas verdades, as alegrias chegarão a ti, ao passo que conhecerás as tuas faltas, sem isso nunca estarás pronto para vencê-las.

 Como eu, precisei ouvir o apavorante estrondo do silêncio. Você não necessariamente precisa conhecê-lo, pois esse é uma das minhas batalhas. Pode ser o teu, pois solidão é uma face multifacetada dos desencontros dessa nossa civilização. Embora seja ou não a sua, servindo de tipografia para o que lhe proponho: liberte-se de si próprio, do eu que querem que sejais e vivas.

Assim como o estrondo do silêncio abriu-me uma dor mortal de força descomunal da qual pensei não sobreviver, mas foi como uma tempestade avassaladora que foi e sempre será seguida por uma bonança e com essa o desesperante silêncio pareceu-me ensinar a viver. Por isso eu propago para todos que querem ser eles mesmos e não quem querem que sejam, neguem a si mesmos (aqueles que os constituíram, a princípio, antes de você nascer) e busque seu silêncio e descubra o que você quer para si. Mas isso requer parcimônia, pois é indispensável, nesse processo, uma grande carga de amor. Se não o tiver poderá mergulhar em um narcisismo ‘abstrato’, ou numa tristeza, ou qualquer estágio limítrofe, que poderá deixá-lo sempre afetado, permanentemente tenso e arredio desalmado consigo e com todos que o circunda.

Digo isso porque quando se descobre que todos os seus deuses (pais e pessoas significativas) não são tão perfeitos como idealizamos, pode desencadear em você uma desilusão ou frustração de proporções pertinentes a cada maturidade subjetiva, quase sempre desconcertantes.

Então se precisas, ou se pretendes ser mais integral e verdadeiro consigo, tens que saber que está em sociedade e, portanto, para a continuidade dessa busca, é necessário conceituar o amor. A princípio lembrando-lhe de que não podes ser apenas a tríade (amor filos, ágape, ou eros) esses possivelmente sejam as formas vulgares desse sentimento nobre. Não sou o melhor conhecedor, mas creio neles. Sei que um dia foi dito que é amar o inimigo como a si mesmo, perdoando-o, sobretudo. O propagador dessa utopia, passível de beleza irretocável e possível redenção humana, afirmou que galardão teria quem ama os que lhes é depositário desse sentimento como o filho, amigo, esposa? (...). Digno de ser comparado a essa realeza de evolução humana, e aquele que usa o amor como arma, dá a outra face ao agressor.

Parece-me certo que esse pregador sabia que somos escravos dos desejos que pensamos ser nosso. Quem, por exemplo, aliena você ao trabalho para que outros tenham uma boa margem de lucro sobre sua força, pensa que será feliz com mais lucro. Na realidade a felicidade traz o dinheiro para ser usada como uma das suas faces, e não ao contrário. O problema do dinheiro é administrativo, mesmo não negando a existência de abusos na relação entre o empregador e o subordinado. Enquanto a felicidade não é passível de dominação e, não vai ser o dinheiro que garanta paz de espírito necessária à alegria de viver.

Bem, voltando ao amor. Ele é a base para você seja um novo ser mais livre e próspero. Ele é indispensável pelo motivo que seus heróis percam seus supostos poderes e potestades diante do fato que eles são tão frágeis e também tão medrosos. Por isso, possivelmente, prende-nos tanto em seus desejos e modelos predefinidos. Mas como poderia ser diferente, se a eles foram assim passados, e sob mesma pressão, ou até maior, internalizaram a ideia de posse (minha casa, meu carro, minha esposa, meu filho...).

Então chego ao final, dizendo com a concepção do amor como chave para sua vida. Descubra o que foi feito de você, no entanto, para isso deve descobrir uma forma de lidar com suas dores, ou melhor, percebê-las. Assim talvez perceba que aprendeu muito com as dores e medos de pessoas significativas. E, perceberá que precisas saber quais são os que realmente são seus. E, poderá também e, sobretudo (re) significar, ou melhor, dar novas faces ao seu destino e possivelmente, comigo, estaremos contribuindo para uma real cultura de paz. É um exercício lindo de viver, e por isso tem um preço: a consciência em pleno exercício de criticidade. Criticidade e não estupidez, lembre-se do amor.

Possivelmente será mais singelo, pois o amor verdadeiro transforma as pessoas, rejuvenesce a alma que lhe é tolhida nesta vida urbana. E assim, o espírito de onde emana o amor será em ti pousado. E provavelmente terá menos vícios e desejos vazios.

É obvio que estará ajudando o mundo a ser melhor e mais inclusivo. É um exercício que convence pela proporcionalidade junto à paz. Imagine você poder contribuir com pessoas significantes a serem mais evoluídas. Pense que não pode fazê-lo? Conheça o amor e verá que é possível.









           

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