A NEUROSE DA ARQUITETURA DO MEDO


A NEUROSE DA ARQUITETURA DO MEDO



            Pensando que na sociedade morre-se por envolvimento com o tráfico de drogas, de uso abusivo de álcool e também deste uso atrelado ao trânsito, estes possuem números alarmantes dignos de guerra.

Em fatores de saúde, quando não matam, mutilam deixando um déficit social gasto em fatores passíveis de serem evitados e, que poderia ser investidos não em medicina reparativa e sim em preventiva. E, socialmente todos esses fatores são movidos diretamente pelas diferenças de acesso aos bens que a sociedade produz. Ou seja, a escravidão da exploração do trabalho a que todo trabalhador se submente.

            Percebamos que, o tráfico existe necessariamente por que existem usuários, como discursa a força policial. Mas as drogas sempre existirão, mas o problema por que a sociedade precisa do vazio deixado por ela, ou o vazio que leva multidões à ela. Por outro lado penso por que nunca se especula a legalização delas. Será que a sociedade teria ao menos uma fonte econômica para tratar os dependentes que buscarem desintoxicação?

Tratamento ou uso abusivo necessários pois quase sempre dentro dessa sociedade hedonista, onde o vício é um vetor que responde a angustia que se não substituída por outro alimento psíquico mais social que minimize a necessidade de solidão, o desejo voltará, cada vez mais forte. Por outro lado, quem melhor paga, salvo engano, ao tráfico são indivíduos economicamente ativos. E esses, ou são, da classe média, média alta e a chamada superior, talvez ela sinalize assim que o acesso a bens econômicos não dão sustentação a felicidade.

            Já o álcool também sozinho mata significativamente em todas as classes. A diferença é que na classe economicamente baixa ele se revele em violência doméstica. Já nas superiores este psicoativo soma-se a imprudência ao trânsito. Ater-me-ei a segunda citação, visto que o primeiro pode ser oriundo, de certa forma, das fragilidades ampliadas nas relações com o trabalho, onde o cidadão de menos recursos adoece e reprime diversas formas de angustia. Porque mesmo percebendo que é humilhado e recebe muito mal, enquanto poucos, responsáveis ou não por sua desgraçada vida de submissão sempre recebe a parte melhor e maior dos lucros. Restando a eles embriagar-se e frustrado reproduz suas angustia em pessoas mais indefesas, como esposa e filhos.

            Assim, voltemos a especular por que se morre no trânsito quando somado a velocidade o álcool ou outras drogas. Se observarmos quem são as vítimas veremos, excetos os atropelados, são jovens de classes abastadas, sinalizam um vazio das suas primeiras relações afetivas?

Novamente percebemos que nas três situações as classes mais abastadas novamente parecem semear sua própria cova, ou melhor, são vítimas também do sistema, onde retroalimenta equívocos. Geralmente, um jovem que se embriaga e vai dirigir seus carros, seus pais ou são negligentes ou desconhecem os filhos quem ajudaram formar ou desorienta-los, ou realmente são tão alienados ao lucro do trabalhar cada vez mais, para ter mais e ser menos pai, ou mãe, não percebendo a conflitante situação em que são imersos eles e seus filhos, é como ‘cego que guia outro’. Sobrando aos filhos cegarem-se mudos aos sacrifícios das  suas fugas, aventuras ‘necessárias’ ou desafios ‘indispensáveis’ para uma vida gostosa. Sim prazerosa, pois seus referencias de vida em sociedade baseiam-se no narcisismo, onde todos parecem girar em torno do umbigo de cada jovem abandonado pelos pais, mesmo estes existindo apenas na mesada mensal, estes possivelmente presentes sempre que o filho chorava, não apreendendo a adiar seu prazer? Provavelmente creram que o dinheiro compra tudo?

Os filhos encontram-se além de outras aventuras, das drogas e nos atos de desespero, atos semelhantes a compulsivos, depressivos ou esquizoides tão pertinentes aos que são jogados a se encontrar no desencontro do uso de suporte artificial para lidar com a vida. Mas como poderia viver amargurado pela solidão da saudade de alguém ausente mesmo estando fisicamente próximo, talvez não tenha solidão maior que essa.

Então a sociedade abastada se protege em carros blindados e outros acessórios, como também em seus muros e grades e esquecem que o mal pode se encontrar em casa. Se as pessoas que vivem nesse lar sendo carentes e de laços frágeis, vínculos vazios de afeto, etc. necessariamente podem precisar buscar suportes para sobreviver. Isso se expressa em uso de drogas, de virulência no trânsito ou convívio com pessoas que podem representar certa insegurança.

Ai denota a neurose da arquitetura do medo. Pois se eles e seus filhos não estão seguros internamente, todas as pessoas que vivem nestas novas formas de castelos, investimentos da engenharia protetiva pode ser insignificante. Assim o individuo esquece que a maior proteção está na qualidade do relacionamento afetivo em que se estrutura. Sendo os laços intrafamiliares estruturantes conflitantes é possível que existam perdas advindas da violência. Mas eles (os castelos) não impedem transtorno, porém a falta desses vínculos é base necessária para fatores socialmente descompensados, possivelmente os filhos em ambientes tão fechados somados a violências e negligencias cintam-se necessitados de fugas e descargas de tanta pressão.

Para alguns filhos essas relações podem ser semelhantes a tortura ou repressão, quando não são permeados por violências mais explícitas como abuso sexual incestuosa. Sendo resquícios de perdas da saúde dos responsáveis e de protótipos de jovens feridos e assim potenciais agressores desconsideram o prazer possível da paz, pois nunca a conheceram. Então os muros e as grades podem se assemelhar as masmorras onde eram confinados os transtornados e adoecidos pelo estresse e distúrbios sociofamiliares.




Ilustração: Gilles Collete





           

           

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