ANARQUIA E NÃO MERA REBELDIA


Bem no intuito de diferenciar anarquia da vã rebeldia enfatizo que a primeira, salvo engano, possui princípios e bases sistematizadas fincadas em uma utopia passível de consolidação.

Por sua vez, a rebeldia estraga, ou mal canaliza a força e vitalidade do desejo juvenil para direções questionáveis quanto seu destino.

Nesse escrito tentarei inicialmente fomentar base para questionar a distorção histórica que o anarquismo vem sendo vitimada. Principalmente pela analogia a ela com tudo que seja desprezível na sociedade, ou seja, qualquer turba sem fim inicialmente aplausível é apontada erroneamente como anarquia.

Não pretende afirmar que a rebeldia não tenha algum direcionamento louvável, pelo contrário, o que pesa em divergência com essa forma de mobilização, são pelo menos duas formas de expressões, a pouca organização dela e também a fácil manipulação da massa rebelde.

Penso que como o movimento estudantil, ao menos no Brasil, sofre de uma inquietante desmobilização no presente pela mera falta de bandeira desse movimento. Ele semelhante ao sindicalismo parece-me ter caído em um ostracismo identitário. Ou seja, qual é a identidade da mobilização, ou o cunho desta?

Principalmente os enfretamentos que ele se propõe se afiança de forma pontual e sem norteador sistemático. Parece que como dantes as formações de grêmios estudantis não são mais tão fortalecidas e pensadas como até os anos 90.

Assim parece que, partindo dessas perspectivas as rebeldias parecem ser canalizações apenas de uma fase juvenil sem maiores expressões além da fase de descobertas e questionamentos tão comuns e necessários aos jovens.

O que me parece triste, inevitavelmente é grupos identitários mais fortalecidos e organizados se utilizarem de manobras e contextos para arrebanhar a juventude de maneira a canalizar a energia e vitalidade dela para provocar certas reflexões na sociedade que não há mobiliza e sim provoca pequenas ou significativos descrenças dos outros atores como a mobilização social organizada.

Exemplificando isso, lembro que muitos trabalhadores que se utilizam do transporte coletivo sempre questionam os quebra quebras do movimento estudantil quando esse reivindica menores taxas de aumento das passagens. E nisso a polícia repressiva ensaia diversas violações contra a juventude ao tentar contê-la, melhor reprimi-la, mas creio que seja menor gravidade diante das ações dos idealizadores dessas reinvindicações pois se utilizam da dinâmica  juvenil e a deixa em situação de risco e até vulnerabilidade social ao incentivá-la a confrontar a polícia ou a dilapidação  do patrimônio público.

Pouco ou ainda não se ver uma mobilização à cultura de paz, como um mês sem o uso de coletivo por jovens que poderiam utilizar um veículo menos poluente e de baixo impacto ambiental como a bicicleta. Ou ainda, debates com a concessionária por que não vamos, em Recife, ter o veículo leve sobre trilhos (...)

Bem, esses mobilizadores da juventude tem sim essa concepção. Mas o que lhes falta é a intenção e o compromisso com uma política de movimento social organizado, ou mais ainda uma política de questionamento sistemática e crítica. Uma postura libertária do consumismo degradante e de uma vida regrada ao respeito e convívio saldável com o próximo e o universo como um todo.

Na realidade parece que até parte dessas pessoas, que no passado foram torturadas, assassinadas em seus direitos e também perderam seus familiares e foram expulsos do país esqueceram por que elas foram assim destratadas. Eles com certeza sabem que uma revolução inicia a acaba a cada dia de batalhas cotidianas. E nesse processo a formação é contínua e de forma responsável. No fundo, creio que o caminho a seguir é o organograma de uma política participativa e sobretudo de empoderamento do indivíduo.

Essa postura de pertencimento e comprometimento com a coisa pública e volta a concepção do comum e necessariamente a garantia de uma busca de efetivar harmonia de direitos e deveres é sem dúvida a concepção do Anarquismo.

É além do comunismo. Esse ideário que ainda hoje é mal interpretado e foi pouca efetivada em suas concepções basilares, pois parece que se perdeu em atitudes particulares e foi jogada ao vala dos comuns como se fosse algo penoso e mal intencionado. Mas na realidade seria uma visão mais igualitária do poder. Coisa que não foi efetivada, sobretudo porque as suas ações ao se fecharem em si, perderam a noção do todo, partiram para alienar seus próprios discípulos. Negar o acesso ao conhecimento é o mal que cedo ou tarde falha. O capitalismo pouco sofre baixas pelo simples fato de provocar uma relativa certeza das coisas em seus arrebanhados, mesmo que suas verdades são mais vazias que a felicidades desses alienados.

O anarquismo por sua vez busca o empoderamento e direitos e deveres de um por todos e todos no poder. É uma utopia absurdamente eloquente,  mas real em concretude. Só todos atuando e sendo corresponsáveis pode-se chegar a uma vida perto da harmonia que pode ir além do ideário comunista.

Nele, um homem é um todo em seus atos, e um poder consciente e crítico.  A arma é a fala e o voto. A quem diga que não a possiblidade de todos votarem e serem ouvidos. Mas pergunto-me como pode ser alguém feliz enquanto seu semelhante não pode sorrir também. Se for uma grande loucura essa minha crença em que todos podem sim falar, não em uma só voz, mas as suas diversas em causa própria, ao menos se as nações e seus estados pudessem instituir vez e votos de maneira equânime e respeitando as diferenças e especificidades e não pelo poder econômico e bélico.

Isso principalmente que historicamente a riqueza dessas nações tidas como ricas assim o são pela miséria das pobres e miseráveis. Então, necessariamente a escravidão e suas formas análogas não são o único caminho a trilhar pela vida.




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