ANARQUIA PARA UMA CONTINUIDADE SUSTENTÁVEL


Já tentei diferenciar anarquia da rebeldia, não sei se com êxito, mesmo assim, agora tentarei diferenciar a primeira de qualquer forma de insubordinação a ordem e a lei que os pais representam. Todavia, esse poder sociofamiliar deve, a minha percepção, ser semeada com o intuito de ser distribuída de maneira equânime, onde o acesso às informações sejam dadas a quem busca-las, mas também, de fácil acesso a todos inclusive para aqueles que não as buscarem  a priori.

Penso que como foi, ao menos na teoria, vencida o paterpoder, onde o pai não só era mantenedor, mas também o primeiro a gozar dos benesses da autoridade quase sempre arbitrária, ao chegarmos ao poder familiar a partir do Constituição Federal de 1998 e o Estatuto da Criança e do Adolescente de 1990, nesta concepção de poder, a mulher é chamada a exercer efetivamente sua autoridade, e assim creio que podemos pensar que chegaremos a um poder sem dono, uma potencialidade acessível a quem a queira empunhar desde que seja para que a liberdade do outro seja garantida.

Eu afirmei que teoricamente. Pois o homem quando ainda detém a autoridade familiar a tem lamentavelmente expropriando os outros de qualquer liberdade, ou o mínimo desta. Por outro lado, não podemos negar que certas mulheres mantém a tutela de seus subordinados seguindo os traços do machismo, de maneira antagônica, a priori, porém se aprofundarmos a observação perceber-se-á que a essas podem não terem recebido outra forma de exercício sociofamiliar, é como se foi semeado ódio, com maior dificuldade nascerá disso, amor. Ou seja, elas geralmente foram pisoteadas como facilmente expressar afago e carinho.

Mas ainda assim, podemos vislumbrar que os filhos sejam educados para exercer um poder acessível a eles e a todos. Um processo onde as pessoas não utilizem desse poder como instrumento de orientação e guia de ideologias de massacre e sim de agregação e apoio.

Nessa perspectiva penso que a anarquia não nega o afeto e apoio inicial dado pelos pais ou quem assumir a formação das crianças. E também não apregoa um ostracismo aos adultos. Penso que essa ideologia pensa em unir e não segregar, mas sua base requer uma ação quase nunca passiva. Ela necessariamente ecoa em nome da participação.

Sei que se afirmará que deliro nessa utopia. Penso que esse é uma bom mergulho ao idealizar um encontro de pessoas que se amem ao ponto de perceber que podemos ser felizes com a participação efetiva de todas, ou ao menos a maioria. Mesmo que sei que nem todos podem desejar partilhar, mas omite-se é uma forma participação, quem se exclui a pode ao fazê-lo omite-se por idealização contrária, sobretudo quando essa postura é consciente e sem obrigatoriedade ou alienação.

Penso que podemos contribuir com alternativas a forma de vida que se apregoa como hegemônica e essa tem dizimado milhões de pessoas e, sobretudo tem transformado os vivos em meros objetos. E esse último fenômeno tem maior sequelas não só históricas mais sobremodo a continuidade da espécie. Pois penso que a forma de consumo que ai está não só degrada o planeta e sim o inviabiliza como bioma.

Assim afianço que só uma postura ideológica onde cada um se (co) responsabilize a todos em um processo real de desenvolvimento em detrimento de um crescimento desenfreado e temeroso, no tocante da continuidade de vida pensante nesse planeta, creio que qualquer proposta não só deve ser avaliada e sim considerada.

E enfatizo que (co) responsabilidade só se afiança com distribuição de poder e essa divisão sendo relativamente equânime a igualdade de responsabilidades pode provocar melhor consciência quanto não só ao consumo mais a qualidade desse processo.

Creio que como bom descendente de nativos enfatizo que nossos ancestrais evoluíram a a muito tempo ao convívio harmônico e equilibrado com a natureza e sobretudo que faz séculos que ela não mais é incontrolável ou misteriosa. O que é imponderável são as reações geofísicas e químicas advindas da degradação do ecossistema. E até essas são diagnosticáveis, desde que se utilize a tecnologia necessária para as percepções precoces da reação do planeta ante sua violação. No entanto, catástrofes viram calamidades públicas e essas rendem mais se forem remediadas não prevenidas ( lamentavelmente ainda há grupos que enriquecem ou mantem seus lucros da miséria humana), ou seja, existem muitas especulações que mortes e desabrigados geram lucros para tais grupos (...)

Mas voltando, afirmo que meus ancestrais xukuru’s  por exemplo chegaram a vivencia anárquica de vida (co) responsável, mesmo existindo um poder central, isso que é abolido pelo anarquismo, a vida tribal, nativa e comunal são exemplos mais próximos de que o anarquismo pode ser apontado como um caminho plausível a nosso existência sustentável. Mas não podemos negar que essa forma de vida foi destruída em nome a civilização vigente. Melhor, a forma mais harmônica de vida, foi descredenciada pela forma mais vil, a dizimação étnico racial, ‘uma limpeza’ eugênica, que se estrutura toda a miserabilidade social no Brasil atual. Foram as formas de colonização, verdadeiras expressões de genocídios pouco provocada pelos historiadores, pois apenas contam a história a partir da visão do vencedor o homem eurocêntrico.

E esse modelo do homem branco, patriarcal, adultocêntrico e cristão foi o que nos engendrou em meio a tantas contradições e violações. Precisamos pensar que todas as raças são dignas para se desenvolverem; como as questões de desigualdade de gênero não mais responde a interesses; as crianças e adolescentes não podem ser mais silenciados via violências; e a teologia cristã precisa rever seus princípios do amor.

E, sobretudo, etnia e raça devem ter espaço para que canalizem suas virtudes e refletirem suas concepções de vida e não serem dizimadas ou expropriadas por serem diferentes. Pelo contrário, suas diferenças devem ser louvadas e ovacionadas.

Mas uma sociedade assim só será possível se a liberdade extrema seja ensinada e estimulada desde o berço e sobretudo que não existe sociedade ideal ou superior estamos em eterna evolução e desenvoltura.

Um planeta libertário apenas será possível onde às diversas expressões de vida e grupos sejam acolhidos e aceitos dentro de suas próprias dinâmicas, ou seja, um planeta anárquico.


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