Aos cinquenta anos de exercício oficial da psicologia no Brasil - diagnóstico injusto.
Aos cinquenta anos de
exercício oficial da psicologia no Brasil, ainda perdura uma dura realidade
quanto a essa bela prática. Não me refiro ao fato que somos ainda técnica quase
que exclusiva à saúde de parte da sociedade, pois essa realidade vem
diminuindo, mesmo que tenho minhas ponderações das subutilizações que nos temos
deixado ser na assistência à saúde em serviços públicos, seja no âmbito da
atuação em saúde mental, social, coletiva, ou ainda na mais especializada, para
com os idosos, mulheres e crianças, por exemplo. Porém, não é esse foco de
subestimação que sofremos, a nível das possibilidades, de quanto podemos
contribuir a que quero referir-me, principalmente, porque nossa classe parece,
ainda, não ser empoderada da sua importância para a sociedade, será resquício
de sermos serviçais de uma divisão de classes, ou melhor sejamos classistas?
Bem, deter-me-ei, não
com boa eloquência, que não me é perceptível, a de encantar via escrita, isso
não é de meu pretérito. Mas buscarei ao menos provocar pequena contribuição ao
nossa prática “psi”, esta cada vez mais, no plural. Não sei, se oxalá por isso,
pois ainda há muitos “patologistas”, por demasia, em nossa prática e, temo que ainda
haverão por muito.
Sem mais delongas me
afirmo que venho pensar um pouco, a partir de minha imatura prática clínica e,
em mais específica atribuição que nos concebem os demandantes ( perdoem-me) se
ora os chamo de pacientes, mesmo que acho que paciente sou eu; ora por
clientes, como também discordo, pois tento vender o que além deles mesmos; ou
por ora não aceito o termo “demandantes”, visto que nem sempre eles
trazem as demandas por serem demandados, enfim, a cada momento tente, leitor,
entender cada adjetivo deste, ou outro, dentro do conceito e dialetize-o com o
contexto que tentarei expressar.
Em suma, começo
preocupado com o que está sendo construído no mundo subjetivo da atual geração.
Pois ora criam em seu inconsciente coletivo, um significante para o psicólogo
com divergentes significados. Estes vão de facilitador de diálogo subjetivo ao charlatanismo;
de empatia à quiromancia; de suporte a pai; de trabalhador do não dito a Deus;
de medidor e como mundo interno/externo a médico; da livre associação à
metafísica ou ainda de psicólogo a psiquiatra (...)
São muitos os adjetivos
quase que hediondos. Mas esse ainda não é problema, pois eles são provocados a quebrar
paradigmas, pois podem ser meras resistências transferenciais. E também isso pode ser o que está não dito
nesse processo.
Como acontece com a
necessidade religiosa precisa de um Deus, para culpá-lo pelo pecado fundante.
Ou o político fraudulento dentro da Democracia representativa. Do remédio que
se esconde na face da cura de um placebo. O psicólogo, também parece ser chamado para responsabilizar-se
pelo que ninguém quer mais saber, de si mesmo, pois isso requer encarrar sua
finitude sem princípio do prazer que não pode negar seu término em eterno
princípio de morte em cada esquina dos pestanejares.
Parece que a alteridade
foi doada para responsabilidade dessa classe. A empatia sua face mais próxima
do mentir, com um possível distanciamento não muito distante, que venha negar o
calor humano do sofrer alheio. Tudo a fim de garantir um rapport, ou seja, uma relação proporcional entre a neurose e a
transferência.
Mas que tempo
encontramo-nos? Real, simbólico ou imaginário. Isso ensina-nos o mestre que
seguiu bem seu mestre superior. Descubra qual tempo está seu queixoso, que
quase nunca quer se colocar no seu lugar de paciente. Ele não tem tempo,
precisa ganhar a vida, morrendo para a realidade, vivendo apenas da pulsão de
morte. Pura resistência para não ver sua real face, prefere geralmente o
imaginário do símbolo que lhe foi negado.
Mas tal qual pássaro
que sabe que terá que se agredir ante o rochedo para adquirir nova armadura e
vitalidade, ou será de eterno bico frágil e impotente com plumagem morbidamente
da morta, o ser humano, imaturo adolescente, protela até a sua morte subjetiva,
para ver se milagrosamente não precisará se arremessar contra o caos dos
rochedos e sangrar para viver.
Não sabe o tolo em
pleno gozo que este apenas nasce do desejo e, ele advém da falta, sem ela nada,
apenas nada nos contentará. E vive-se em um vazio, pois tudo lhes foi dado, se
nada lhes falta então não tem mais desejo, escassa o prazer que morre antes de
cada gozo.
Comum seria, para não
dizer normal - pois esse pode dizer que existe um anormal, mas não existe um
único caminho para felicidade -, que o gozo viesse precedido do prazer, ou
estes se mesclassem de tal maneira que um nasce ou morre em comunhão com o
outro. Quero dizer que o prazer não necessariamente, seja o gozo, mas que ele
seja o meio do gozo e este a finalidade.
O prazer da vida está
em tudo que atuamos, mas o gozo anda ao seu lado, ou dele resulta, pois me
parece, que este é submisso ao primeiro. Exemplificando parece que me confundo menos.
É um prazer viver, que
corresponde a estudar, trabalhar, manter as responsabilidade e isso só tem
valor porque nos traz uma gozo correspondente de ter uma graduação, receber o
salário, ter e ser de um família; sem esse prazeres seriamos analfabeto
portanto, desinformado, e sem o trabalho passaríamos mais necessidades, sem
família seriamos sozinhos. Porém essas três verdades também garantem certo
prazer, do não pertencimento, análogo a desresponsabilização. Traz um gozo,
pois pode causar o desejo da sua falta. Se ela for alimentada surgirá à busca o
prazer será potencializado, alcançado a meta surgirá o gozo.
Todavia, o que se tem
visto, ao minha tosca percepção é que não se busca o prazer, pelo contrário a
atropela. Busca o gozo.
A criança que todos os
brinquedos os quais é alienada pela TV, para criar um mundo fantasioso do
lúdico infantil e necessário ou o mundo que já está desenhado para ela? O
adolescente quer trabalhar para ter um carro. Mas o gozo de tê-lo é para
mostrar que têm e não para ser nem adulto nem mais criança. A mulher que
independência, mas o que fazer com ela, ser como o homem machista e se
empanturrar em outro tipo bebedeira (entenda vício) como o consumismo ou o
modismo, como queiram. A pessoa idosa inveja a juventude por desconhecê-la, por
ter sido levado pela ideal de mercado do trabalho ao qual teve que se alienar
para sobreviver e por isso critica os jovens veementemente para esconder que já
morreu a muito.
Enfim vivemos em tempos
que não são os nossos. Morremos quando queríamos viver, vivemos quando devíamos
morrer. Ou seja, quando idosos percebemos
que não vivemos, pois, nos negamos à vida. E quando estávamos vivos nos
vendemos a valores que nos cegaram para a vida.
E assim, projetamos em
nossos “psis” todas as marcas estereotipadas do desconhecido, para não vermos o
que melhor nos conhecemos, nos mesmos.
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