QUANDO O INIMIGO ESTÁ EM MIM.

Quando o cuidador torna-se agressor é o último estágio em que a dignidade humana é degradada. 
Imagine que os idosos são primeiros a suportarem suas feridas, sobretudo, quando elas são praticadas por entes queridos,  aqueles também adoecidos tiram proveito de uma relação patológica ao ponto que as vítimas sentem-se culpadas. 
Erroneamente lamuriantes afirmam que não foram capazes de educar ou formar bem seus algozes que dilapidam os poucos lucros que a vida lhes deu e são deixados  por aqueles largados aos resquícios do esquecimento e da vulnerabilidade.
E muitos se submetem as agressões para continuarem vivos ou que um milagre aconteça dentro da dor que na maioria não deixa marcas físicas e sim na alma, acusam-se e alimentam um alento de precária esperança na qual são levados a deixarem que os seus torturadores administrem, ao seu bel prazer, sádico diga de passagem, os precários proventos e quase sempre mantendo um mísero processo que se pode pensar que represente um ciclo de violência, ensinado no passado contra o atual agressor pelo idoso de hoje. 
Mas não se engane, é obvio que  tratamentos podem desumanizar e ser base de caráter e até personalidade que interagem violentamente, porém nada se compara ao medo do diferente, a intolerância. Ela é que mantém perversamente o sulco das cicatrizes abertas, amargadas pelas vítimas.
Claro que isso apenas explica parte de cada história daqueles quatro idosos que são vitimados por dia no Brasil, entretanto, quase todos aqueles que vem a óbito a partir de "quedas", podem muito bem serem vítimas de negligência e ou pouca percepção do ambiente em que vivem, mas que é  como meio letal, quando não são abandonados ao sua fragilidade que se alimenta das milhares faces da depressão, que alimenta silenciosamente o gozo perverso do "ente querido" agressor.
Mas nos concentremos na postura daqueles que, necessariamente, diz-se como uma antiga vítima de sua presa, o idoso. Estes esquecem que os idosos que podem ter sido um dia agressivo com eles apenas reproduziam a única forma de ensinar sobre a vida ou educar para esta? Ou será que todos os agressores de idosos de hoje, foram abusadores, violadores sexuais, espancadores (...)? 
Claro que não. Na maioria, em minha pequena experiência, os idosos atuais foram sim, como fruto do social que lhes criaram, mesmo que isso também não justifica nenhuma violência, apenas incisivos devido a sua formação, agindo como se seus filhos fossem posses deles e quebráveis. Como se cada um de nós carecesse de sermos tutelados ao ponto de prepararem para cada um filho o caminho a trilhar, o ar a respirar  a vida a ser por eles vivida. Eram apenas medrosos do sofrimento de que nos filhos, os poderiam causar caso se machucássemos. Assim viviam em estremos, ora cuidavam demais sufocando os filhos, ora grosseiros demais também espremendo o filho contra o mundo sozinho.
Estes são a maioria das atuais vítimas.
Já por seu lado, os agressores em sua maioria são inteligentes cognitivamente e mecanicamente, estruídos, conscientes do sofrimento por ele empregado, como também das penalidades que podem ser a eles sancionadas. Por isso são mais ardilosos, no entanto, de uma inteligência emocional tão precária quanto as de suas vítimas.
Neste quadro podemos pensar em um ciclo, pois se fomos averiguar as formas de relacionamentos por eles vividos são tão inseguros quanto a deles semelhantes a de seus pais, os atuais idosos. 
Porém, se somos conscientes da causa e consequência de nossos atos, porque não acatamos uma outra lógica: a da cultura de paz, a da tolerância, em suma, a do amor. 
Será que a sociedade nos educa a sermos estúpidos emocionalmente? Como única forma de termos paz? Não lhes serve o exemplo de seus idosos que ficam jogados a relento a abraço gélido da morte, ante dela mesma chegar? 
É tempo de outra lógica ser vivida e deixar de ser apenas sonhada ou apenas lida e assistida. É preciso fazer para além do nosso "happy end" de cada momento. Faz-se necessário ser feliz agora, de uma felicidade alimentada no que temos e conquistamos e não termos medos do fim que pode ser visto em cada idoso, precisamos dar a estes seu papel de conquistador que foram e com suas experiências aprendermos a não errar onde eles erraram, só assim você será mais você porque deste velho você fluiu e se tiveres amor, chegaras a idade dele também, mais belo que ele se saberes ser ele, já.

Comentários

Postagens mais visitadas