ÀS VIRTUDES PERDIDAS: SUICÍDIOS APÓS A DEPRESSÃO
São muitas as verdadeiras perdas que somos mobilizados ao suicídio daqueles
acometidos com a depressão. Mas afirmo, necessariamente, que os seres
humanizados a partir de uma intensa internalização de sua subjetividade, a qual
nós técnicos aprendemos a atualmente chamar de depressão, floresce um ser
maravilhosamente belo no que se refere a viver humilde intensamente.
Inicio citando o nosso Solomon “O
suicídio é notoriamente uma solução duradoura para um problema com frequência
temporária” (p.230) e, sabendo que o autor sabe do que se refere por ter
aprendido a viver com essa demanda altamente subjetiva: Não teria como produzir
outra coisa que a beleza que citei.
Assim, me baseio no que o ele cita a partir de Durkheim que “propôs
que embora o suicídio seja um ato individual, suas fontes são sociais (...) a
aparência relativamente consiste de uma tendência psicopatológica ao suicídio
parece estar ligado aos construtos sociais” (p.233) para defender o poder socializante
e ou ‘patologizante’ nos contexto de cada realidade social. Ou seja, a
depressão é tremendamente humanizante quando percebemos que ela além de ser
desenvolvida a partir de cada contexto comunitário a este, se for percebida
pode ser um indicador de melhor relação intersubjetiva.
Isto pode ser tão real que em Freud leu Solomon “o suicídio é muitas vezes um impulso de uma
pessoa contra a outra, deferido pela própria pessoa contra si mesmo (...) e que
instinto de morte está sempre em equilíbrio incerto com instinto de vida” (p.235).
Então posso pensar que a depressão é, entre tantas importâncias, um exemplo de
amor. Sim, não creio que seja uma covardia do depressivo ao se utilizar do
suicídio para matar o outro em si ao não matar a esse, é um amor altruísta em
relação sem a dialética da alteridade e empatia a si mesmo, enfim, um equívoco
da resiliência.
Explico posterior a citação, “O homicídio é mais comum do que o
suicídio entre os destituídos de direitos civis, enquanto o suicídio é mais
elevado entre os poderosos (...) contrário da crença popular, o suicídio não é
o último recurso da mente depressiva. Não é o último momento da decadência mental
(...) É rebelião da mente contra si mesmo (...) é preciso o brilhantismo do auto reconhecimento para
destruir o objeto desse reconhecimento (p.261), pois ela me ajudar a indagar se
realmente o poder de suportar as frustrações e as mentiras dessa sociedade – a resiliência,
no suicídio, não foi sinal no suicida de
pouca elaboração?
Quero dizer que se o sujeito obteve, na formação do primitivo de sua
personalidade, uma resiliência que o enquadra como alguém lapidado para o ferro
e fogo das mentiras dessa sociedade consumista, possivelmente será capaz de
tirar os imensos lucros advindos da depressão.
Necessariamente essa resiliência é forjada contra essa máxima: “Todos
nos queremos um controle maior sobre a vida do que de fato temos, e ditar os
termos da vida dos outros faz-nos sentir seguros”. (262). Quero, sinalizar que
todas as personalidades que aprendem viver em comunidade para além da
necessidade de proteção – desejo primitivo, e chega a relaciona-se com o intuito
de se diferenciar do seu semelhante e, em contexto de direitos e deveres iguais
essa estrutura de personalidade resiliente é capaz a gozar inclusive na dor da
depressão e quando estiver saindo dela não desviará força que o fez submergir
para se aniquilar pois perceberá que o semeado naquela dor brotará um produto provável
não apenas de alívio mais de regozijo.
Talvez seja por esse motivo que Solomon reconhece que, - “O demônio do
meio dia “a maioria dos demônios - a maioria das formas de angustia – apoia-se
na cobertura da noite. Vê-lo claramente é derrota-lo. A depressão apresenta-se
as fulgor total do sol, não se sente desafiado pelo reconhecimento. Pode-se
conhecer todos os porquês e mesmo assim sofrer tanto quanto estando mergulhado
na ignorância (271-2) – seja essa a razão da depressão se mostrar ao fulgor do
sol, para amadurecer ao homem em sociedade, sinônimo de podridão, onde só o
homem seja capaz de significar para si o mundo perfeito que o é, diferentemente
dessa sociedade.
Robert Burton, citado por Solomon, diz que “os melancólicos são, de
todos, os mais espirituosos, e ‘sua disposição melancólica’ causa muitas vezes
um arrebatamento divino, e uma espécie de inthusiasmus (...) que faz que sejam
excelentes filósofos, poetas, profetas etc. ( p.281), mas preciso salientar que
a resiliência citada também pode produzir uma passividade diante dos lucros da
depressão. A exemplo que “Kierk
egaard É o garoto propaganda da depressão (...)
ele tirou um curioso conforto de sua dor (...) “Em minha grande melancolia, eu
amava a vida, pois amava minha melancolia (...) É como Kierkegaard acredita-se
que a felicidade o debilitava (...) Kierkegaard via a humanidade como
melancólica(...) incapaz de amar as pessoas em tono dele voltava-se para a fé
como uma expressão de algo remoto estaria que estaria além do desespero. (p.294) .
Assim, vou além do cristão Kierkegaard que precisava se curar do
desamor principalmente porque tanto que nossa Bíblia, ele leu a indagação de
Cristo, se O amamos não O vendo, se não amamos os semelhantes que vemos?
Enfim sirvo-me a afirmar que a depressão que produz um desamor é um
desvio ao que possuem pouca resiliência que é produto de um amor libertador,
pois só a tem quando a aprende em meio a uma frustração bem dosada. Karl
Abrahan diz “a depressão (...) ocorre quando o ódio interfere na capacidade de
amar do indivíduo (p.301).
Já Melanie Klein propôs que toda “a criança tenha que passar pela
triste experiência de perder o seio que o alimento (...) a posição depressiva
infantil é a posição central no desenvolvimento da criança (...) o
desenvolvimento normal da criança e sua capacidade para o amor parecem repousar
amplamente em como o ego supera essa posição nodal (p.303), então é necessário
o ser viver essa perda e aprendendo nessa frustração, se bem dosada nem muito
nem pouco, em homeostase constituiria uma estrutura de personalidade “pre” concebida
para se resinificar com a resiliência nascida dessa inicial frustração.
Isso daria força ao sujeito para viver e ser mais potencialmente capaz
de viver com novas dores como a depressão pois, em Jacques Lacan, “a depressão era uma
terceira paixão, tão poderoso e urgente quanto o amor e o ódio que podia
desencadeá-la” (...) e para Hassoun “somos deprimidos não porque estamos
distantes do queremos, mas porque estamos incorporados a ele. (p.303), então, se
a natureza (mundo biopsicossocial e espiritual) de nossa sociedade nos coroa
com a depressão é para sermos reis.
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