DEPRESÃO: A Assassina dos Séculos.
Pensando sobre a dor de viver, ou melhor, o suposto prazer de morrer ao se utilizar de pequenas doses mortais a cada auto negação no comportamento do viciado é um sinal intrigante de sobreviver bordelaine, sempre em intenso limite. Andrew Solomon, em Seu “Demônio do Meio Dia: Uma anatomia da Depressão”, diz que “O abuso de substância é a substituição da “dor desconfortável e incompreensível pela dor confortável e compreensível” (p.208).
O autor continua enfatizando,
no seu capítulo “Populações”, ou seja, um perfil dos acometidos pela depressão,
onde ele enfatiza a sintomatologia dos que em comorbidade da depressão ou essa como
sintoma do uso abusivo de substância - que eu veja ambas como irmanadas ao
suicídio -, afirma que, por exemplo, “A retirada do uso crônico de álcool pode
incluir delirium tremes, potencialmente fatal”. (p.211).
Nesse termo “fatal” é, passível de ser um
indicador de que o organismo, que chega ao “delirium tremes”, geralmente na ausência
da substância, necessariamente procede que a biologia submeteu o desejo racional e o indivíduo vive em pleno gozo,
como Freud de algum modo sinalizava, o Id, estrutura regida pelo prazer,
subordina a personalidade ao princípio do prazer em detrimento do princípio da
realidade, e assim prazer atrela-se à pulsão de morte.
Um exemplo de viver para morte precocemente, o
que penso ser pertencente o ser determinado pela pulsão de morte é a pessoa
viciada que ao passo de cada uso diminui-se o prazer e aumenta-se a dor: “A
ressaca da cocaína é caracterizada por interna agitação, depressão e fadiga
(...) ocasionando níveis reduzidos de dopamina no cérebro (...) quanto mais
viciados se fica, menos prazer se sente, e mais dor se segue ao prazer” ( 213).
Solomon é enfático ao trazer que “A depressão
possibilita o vício; e vive versa (...) a fraqueza é o atalho para o vício”
(225), mas me cabe afiançar de algum modo que a fraqueza que o autor traz aqui
penso ser referente aos que não são preparados socioafetivamente a tirarem
lucro do seu processo depressivo.
E isso, é tão contextual a sociedade atual,
quero afirmar que o modo consumista é determinante para submeter às gerações a
seu mecanismos de escravidão e, nada melhor que alienar o homem mergulhando-o
em um suposta liberdade, na realidade um acesso a diversas recursos inócuos
para aplicabilidade na vida prática, ou melhor, capacidade de utilizar
tecnologias que ajudam os homens a se isolarem, trazendo-os uma solidão da suposta
individualidade, na realidade uma fonte pulsante de ansiedade para os imersos
em demandas cada vez menos respondidas: Não seria um nascedouro de depressão?
Enfatizo
com um exemplo que o próprio autor traz de um caso referente a um homem afrodescendente
que é o novo modelo das bitolas deterministas do consumismo “A raça desempenha
um papel para mim” (p.185), isso para sinalizar que o maior vício que somos
submetidos são inverdades dos modelos enlatados de como viver: estéticas
diversas, mas sempre delimitando modelos excludentes da maioria, escravizando os
desavisados de maneira arbitrária.
Em suma, vivemos em um perene guerra
silenciosa: A Depressão como maior instrumento de morte manipulada a favor do
consumista. Onde, esse instrumentaliza-se daquela pelo menos em duas frentes:
Uma como os vícios determinantes de subvida à maioria e o exclusão também a
essa massa de pessoas em manobras da higienização tão corrente desde de 2013 no
Brasil excluindo os seus sub-cidadãos nas vésperas da Copa do Mundo de 2014. Mas,
sobretudo, uma segregação menos velada, aquela anulação aos críticos e aos
céticos a democracia atual. Aqui incluo os intelectuais (reais) de esquerda e
aos anarquistas.
Enfim, não há como dialogar sobre a assassina
de todos os séculos, a depressão, sem a contextualizar a cada realidade onde
ela se retroalimente e se resinifica e torna-se mais silenciosa acometendo,
sobretudo, a quem, é tão alienado, pensar deter qualquer poder: O homem.
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