DEPRESSÃO VETOR DE AMOR PRÓPRIO, ALTERIDADE E DO ALTRUÍSMO









 
 
Novamente e agora e como o penúltimo tópico que escrevo sobre a depressão, a partir do “Demônio do meio Dia: Uma anatomia da Depressão. Desta feita parto de citações da Pobreza ( Cap. 9) e posteriormente evoluo para o Capítulo sobre a Política de enfrentamento, coisa que desde já, eu devo sinalizar que é errada a preposição de enfrentamento, pois todos os dilemas subjetivos não suplantamos porque temos que viver com nossas demandas e desse convívio sermos mais completos e humildes.
 Veremos que além da passividade contextual na pobreza, “Humanidade da pobreza marca uma relação passiva com o destino (...) perdem a principal qualidade humana: o livre arbítrio ( p.311), teremos também de perceber que esse livre arbítrio perdido  socialmente não veta a possibilidade de amar, e, se amar requer um anterior amor próprio o livre-arbítrio espiritual e psicológico necessariamente não se perde.
Na realidade, assevero que o citei no parágrafo anterior aqui se explica “A sabedoria popular sustenta que o desemprego precisa ser remediado antes que se cuide da saúde mental. Esse raciocínio é falho, consertar o problema da saúde mental pode bem ser o modo mais confiável de desenvolver uma pessoa a força de trabalho”. (p.313), pois como o foco ao trato do sofrimento psíquico erra quando esse é sintomatizado no carente socialmente crê-se que tratando da mazela social apenas se sanará a demanda subjetiva. Mas na realidade nada pode ser mediado em parte ou descontextualizado na peculiaridade de cada pessoa e sim, pelo menos tratar do mais íntimo ( a vivência com a depressão por exemplo) ao social ( a pobreza). Isto porque a primeira se atrela com os demais fenômenos da vida, isso serve-se para ratificar a demanda de cada um de nós: O Biopsicossocial e espiritual.
Esta demanda intersubjetiva é tamanha que contra “A sabedoria psiquiátrica sustenta a força que você só pode ajudar aos que querem ser ajudado  e comparecem as suas consultas, mas isso não é de forma alguma verdadeira para essa população” (p.315), pois a população carente tem outras formas de lidar com seus sofrimentos e a passividade que eles por hora se entregam nada mais é que descrédito a atuação de um profissional que nem o escuta apenas o injeta química sem saber qual é a vivência daquela pessoa acometida, por isso, nós pobres preferimos crendices ou rezas e folhas pois  quem administra essas virtudes populares além de está próximos a nós, viram-nos nascer, quando não foi nossas parteiras(...) Percebem o vínculo íntimo , não só psíquico mais espiritual? O que carece ao menos esse vínculo psíquico na atuação do psiquiatra, coisa que nós psicólogos é mais presente.
O autor americano sinaliza a verdade já sabida “Apesar de extensos debates na última década sobre as causas depressivas, parece bastante claro que ela é geralmente consequência de uma vulnerabilidade genética ativada por um estresse externo” (p.321), porém porque será que os psiquiatras preferem esconderem-se atrás de caixas de comprimidos, parece-se ser mais cômodo e perverso apenas administrar química, mas fazer o que, se a atuação de grande parte desse especialista é submisso a renda das grandes farmacotécnicas.
Então, sendo “A depressão é intimamente relacionada aos contrastes sociais” (321),nosso colega sinaliza que “O trauma entre os indigentes americanos não está ligado diretamente a ausência de dinheiro (...) mas muitos sofrem de desamparo aprendido, um estado percursor da depressão (...) o desamparo aprendido, estudado no mundo animal, ocorre quando o animal é sujeito a um estímulo doloroso numa situação em que é impossível fugir ou lutar. O animal entra numa estado dócil semelhante a depressão humana. A mesma coisa acontece a pessoas com pouca volição; a condição mais perturbadora da pobreza americana é a passividade”(p.321-2).
E essa passividade que me dar base para pensar na conceituação biopsicossocial e espiritual que acomete o depressivo e assim sendo o acometido ora espera cura divina hoje não mais possível por curandeiros visto que nossos índios estão extintos em sua base antropológica e ancestral, mas então, aquela possessão, castigo ou não podemos em nossa passividade encontrar uma saída, mas não creio, tanto porque concordo com Solomon quando afirma que “A passividade é a realidade típica de uma pessoa que sofreu abusos repetidos quando criança”, mas nem todas as passividades na depressão são advindas de traumas infantis mesmo que asseguram nesses estágios, se abraçando a essa primitiva realidade tanto que todos adoecidos tende a regredir e desejar o seio e colo maternos.
Enfim, no capítulo da Política de enfrentamento o autor traz que vive-se “2500 anos de pouca clareza sobre a natureza da depressão” (p.326) e o pior que patologizar tudo e a todos é um ato correlato ao que a sociedade consumista indica em sua postura fast food ingestão de qualquer coisa externa que venha dá um breve alívio. Mesmo assim, tendo remédios para quase tudo o autor sinaliza que para os deprimidos serem alvos de ações das políticas púbicas é mais complexo “Os deprimidos (...) são lobistas incompetentes”, sobretudo, porque ser depressivo não dar status quo e ninguém nessa sociedade quer ser um fardo “Viver em segredo é oneroso, e que sua depressão era provavelmente exacerbada pela vergonha” (p.348), essa citação refere-se a um casal de depressivos que ambos não partilhavam entre si por vergonha e medo de ser abandonado um pelo outro.
Nossa sociedade consumista é baseada em hierarquia por isso ninguém quer se colocar na situação de necessitado de atenção, do seio e colo materno, “Em figura subdominante, ao ceder à autoridade, libera o vencedor da obrigação de mata-lo ou ser exclui-lo do grupo”. (p.352).
Diferentemente, ao fato que a sociedade não acolhedora de seus fenômenos e “A sociedade moderna provoca ansiedade (...) as taxas de depressão tendem a ser mais baixas em sociedades de caça ou em sociedade puramente agrícola as sociedade tradicionais não lidavam com o estresse crônico” (...)  “Exceto,  pela fome persistente não há nenhum estresse crônico”. (p.354-5)
Então a sociedade atual ainda reúne a hierarquia velada, a dos mais fortes submetem os fracos e essa verdade é negada e ludibriada apontado que somos livres, “Talvez a fonte primária de nível extremamente alto de estresse em nossa sociedade não seja as aflições evidentes, mas a liberdade a nos oferecida na forma de um número esmagador de escolhas sobre as quais conhecemos pouco”. (p.355). Essa pouca clareza das coisas nos coloca diante de uma verdade assustadora: “Em termos políticos, a liberdade é frequentemente um fardo”. (p.356).
E o pior que quando não percebemos as inverdade a nós investidas tendemos é claro adoecer “As pessoas que perseguem seus objetos com excessiva tenacidade e não conseguem desistir de vínculos obviamente imprudentes são especialmente sujeitos à depressão” (p.357).
Mas o bom da depressão é que ela pode nos dar sinal que estamos sendo enganados “A depressão pode certamente interditar comportamentos negativos (...) depressão é frequentemente um sinal de que nossos recursos estão sendo mal investidos e precisam ser seu foco ajustados” (...) pode “funcionar como a ideia de que a depressão é uma disfunção de certos mecanismos úteis é talvez a teoria evolucionista mais convincente de todas. A depressão surge frequentemente da dor e representa uma aberração dela” (358-9) (...)O sofrimento é profundamente importante para a condição humana. Acredita-se que sua função mais importante seja a formação de vínculos. Se não tememos a perda por não tê-la sofrido, não seremos capazes de amar intensamente. A experiência do amor incorpora a tristeza em sua intensidade e alcance. (p.359)
Enfim, não haveria outra forma de terminar esse artigo do que a sinalização de que a depressão é um vetor de amor, próprio, alteridade e altruísmo “As pessoas com a maior capacidade de amar são mais propensas a se apegar a vida, a permanecerem vivas, do que aquelas sem esta capacidade; são também mais propensas a serem amadas, e isso também as mantém vivas (...) É a contemplação da perda que faz que seguremos firmes o que temos. (...) Sentimentos de amor e ódio muitas vezes têm ramificações pouco práticas. Eles se ajustam de modo algum ao nosso sistema racionalista. A capacidade de amor podem apresentar vantagens evolucionistas, mas como agimos em face do amor é um processo próprio. O superego nos impele a fazer coisas que beneficiam outros à custas de nosso prazer. Ele nos convida a entrar na esfera das alternativas morais, uma esfera que perde seu significado se tentarmos, e liminar o sofrimento e seu triste primo mais ameno o remorso. (p.359) (...)Cuidaremos dos que amamos para evitar a dor intolerável para nós mesmos (p.361)
 
*Andrew Solomon: O demônio do meio-dia: Uma anatomia da depressão”, Rio de Janeiro,2002.
 
 

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