SILÊNCIO

O SILÊNCIO
O silêncio talvez seja o maior exemplo do desalento, simboliza ou expressa o real sentimento construído nesta tida sociedade pós-moderna: solitária dor, carente amor imerso no vazio, uma saudade de algo que não se viveu, um amor apenas só sem realização.
Mas para deixar claro o que quero expressar, afirmo que creio que todo o barulho, por mais ensurdecedor que seja, é uma forma de silenciar, pois impede qualquer forma de comunicação sistemática, ou por assim dizer, que garanta continuidade, que negue o prazer hedonista, imediatista, egoísta, aquele falso gozo que coloca as pessoas em mútuo uso, literalmente objetivando construir um elo entre dois ou mais  objetos e não seres capazes de construir maravilha através de sentimentos profundos e verdadeiros, mesmo que errantes, pois perfeito apenas o amor ágape.
Basta continuarmos seguindo o que a autora, (Nina Saroldi. Em O mal-estar na civilização: As obrigações do Desejo na Contemporaneidade, 2011), baseando-se em Freud, Lacan e Zizek, traz concepções da subjetividade pós-moderna: “ Se nos tempos de Freud, da sociedade de produção, o supereu foi concebido como uma barreira ao gozo sem limites, atualmente, na nossa sociedade de consumo, o supereu incita, permanentemente, ao gozo intransitivo.” ( p. 19)
Quanto a necessidade de sermos apenas objetos, cabe aqui como se apenas fossemos gozo e nunca teríamos tribulações. E vivermos sem verdadeiro compromisso conosco e com o próximo, nessa sociedade a necessidade de grupos é imprescindível, pois neles pode-se manipular mais ainda os desejos e aprofundar a alienação.
E como se não existisse ressaca, a autora para expressar que para buscar prazer contínuo está inserido em um grupo é a melhor forma diz “Um grupo é impulsivo de pertencer e caprichoso (...)  Não tolera esperar o tempo necessário entre um desejo e sua realização; não possui capacidade de planejamento, porque é desprovido de perseverança” (p.47).
E nessa falta de perseverar, labutar, sonhar e buscar a realização e assim aguardar o tempo das boa realização que penso que sendo o grupo sem identidade e hedônico, ele é apenas uma forma de não se escutar ou sentir as pessoas e  suas dores, em suma, uma forma de ser desumanizante de não evoluir para além de uma mera forma de relação social.
Relembro que a muito tenho escrito sobre a nossa única forma de evolução que seria a visão biopsicossocialespiritual. Sendo esta última, a espiritual, a base de todas as formas de lidar um com o outro, como o planeta, animais e flora e etc onde todos desenvolvem-se mutualmente pois se relacionam mediados na busca do verdadeiro amor.
Porém o que se tem dado como meio de solução para os dilemas humanos é apenas o direito individual ou ao menos o coletivo de um grupo bitolado, negando o conflito e o debate.
Parece contraditório, mas não é. Vejamos, o maior meio de perceber o homem nesta sociedade atual é o ver em sociedade, entretanto, negado seu dever e direito de descordar. O diferente sempre é convidado a ser igualar ou a se inscrever a um grupo, não se é admitido o que não aceita se bitolar ou se submeter a regras. Basta vermos que se apenas a grupos que retenham poder aquisitivo. Exemplificarei o grupo LGBT, lésbicas, gays, bissexuais, travestis e transexuais e transgêneros,  os quais creio que não seriam defendidos se estes não fossem um grupo economicamente em potencial, um mercado a ser alimentado.
Mas voltemos ao silencio, existe uma verdade que toda a sociedade nega   em busca de prazer, porém imersa em pleno desespero, do qual Freud já sinalizava no inicio do século passado “Freud indica em sua teoria da cultura que o homem teria sido adestrado, domesticado – por si mesmo – ao redirecionar par dentro a agressividade primitiva, antes orientada para fora. (...) A invenção mais eficiente da cultura para promover essa introjeção da agressividade foi a religião” ( p. 25).
Mas o ledo engano freudiano é que não é na religião onde encontramos paz e amor verdadeiros. E sim em não silenciar nossas frustrações, medos e dores e sim confessá-los a quem pode nos garantir a liberdades de todas essas mazelas.
 Mas o não confessar, o silêncio leva a loucura e ao desmoronamento. Sente-se não só o vazio deixado pela dor e o desamor. Fica-se perenemente só, mesmo se estando acompanhado, pois a quem tens por próximo, para ele não há outra coisa além do seu próprio vazio, e por ser percebido como infindo, precisa ser negado a todo preço continuamente e assim se morrem pouco a pouco em diversos jogos suicidas.
  Freud não era grosseiramente em dizer “ o mal-estar é inerente a cultura; ele a habita” (p. 26), porém confunde o conceito de liberdade, pois em tal liberdade o ser humano é alimentado do amor errado,  aquele que apena valoriza a si em si, não é no próximo ou em algo além do material. O erro freudiano fica explícito quando ele diz “Tanto na Igreja católica quanto no Exército  (...) Cristo e o comandante amam a todos igualmente  sustenta toda a estrutura (...) o autor ( Freud) conclui que o fenômeno de sua psicologia é a falta de liberdade do indivíduo” ( p. 48). Erra estupidamente em confundi Cristo com uma religião, essa que agregar diversas seitas em seu seio, sobretudo o culto a diversos homens feito deuses, idolatra, portanto, e o seu maior culto ainda hoje é ao dinheiro, ao poder. Mas erraria se pareia Cristo a qualquer outra.
Pois todas elas se interessam que existia grupos de pessoas bitoladas e não subjetividades pensantes e verdadeiramente livres e questionadoras, algumas sonham serem santas nesta dimensão. Mas critiquemos ao menos a católica, pois ela é de onde parte do psicanalista. E ela queria tanto alienados que basta lembrar que a pouco tempo a Bíblia dessa religião era uso exclusivo dos padres  e lidas em latim. Enfim, desejosos de silenciar o próprio Cristo.
Disseminam o silêncio mesmo que esse seja a maior expressão da dor, em gemidos inexprimíveis.
Mas o Cristo diz deixando ante a Ele todas as dores e desamores e não silenciando a Ele todas as amarras. E sim confessar e assim se libertar verdadeiramente.
Enfim, para prematuramente concluirmos, aponto como curioso o que a autora traz que a “afirmação de Freud à sociedade insulada e narcisista,  na qual, sob a rubrica da tolerância, esconde-se, muitas vezes, indiferença - como aponta Bauman –ou mesmo desprezo pelo outro ou por outras culturas. É sem dúvida mais confortável ser indiscriminadamente tolerante do que lutar por seus próprios valores e ideais”. (p. 50)
Ela aponta a tolerância como um engodo para negar que existem demandas que precisam ser acatadas e outras trabalhadas e serem repensadas.  A tolerância pode ser a maior prática de negar o amor. Tolerar quando é suportar e não aponta os erros que o próximo precisa perceber para evoluir é não amar o próximo.  Pelo contrário, é mantê-lo o errado na sua cegueira.

 É isso que Cristo não faz ele não tolera do que em cada um de nós afasta Dele. Ele não é tolerante, conivente com o que causa dor e perdição.
O silêncio destrói tudo que de bom brota no coração e seu fruto nunca haverá adubo para o fazer vingar, portanto, seco dele nunca mais o belo se ceifará.

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