Intervenções Psicossociais no Âmbito Jurídico: uma homenagem e reflexão.



 
O trabalho interdisciplinar é o princípio de um antigo resgate. Retifica a visão de técnicos ainda não realmente humanizados a cultura de cada demandante; e ratifica o que já a tempo se pronunciava e, que nós é que não queríamos ouvir, ou perceber por mero dramatismo da imaturidade ou falta de vida nas veias: nada sabemos do outro, onde as técnicas apenas nos ajudam para facilitar ao sujeito que nos confidencie parte da verdade, que o atola e de lá ele crer que nós os “doutores” os podem tirar, ledo engano. Apenas ele pode.
Nada sabemos e disso deveríamos no orgulhar. As caixinhas, onde ainda colocamos os usuários, pacientes, declarantes, clientes - são tantos nomes -, nestas caixas damos os nomes como sintoma de que  queremos des-personificar ou des-culturar ao indivíduo e sua família.
Cada família tem seu movimento próprio e sua forma de adapta-se ao mundo e ressigificá-lo, não deveríamos interferir nisso. Apenas e talvez, apontar que de acordo com aquela lei fria tal comportamento ou atuação em sociedade não cabe mais, pois favorecer ou ampliar, ou melhor, retroalimentar-se da não cultura de paz.
Mas essas famílias e indivíduos como podem ser condenados por terem sido educados pelo machismos, feminismos e tantos outros “ismos” que os deslocam a um suposto poder que os toma e os aliena?
Cabe-nos apenas refletir “junto com” eles e não  por eles, pois nossa visão nos serve, e nem sempre. O usuário tem sua razão e compete-nos apenas apresenta-lhe que tal ato ou comportamento não, talvez nunca, o engrandeceu pois lhe trará mais sofrimento.
Pablo Neruda uma vez desejou "viver como pobre cheio de dinheiro" e isso me lembra bem do que percebo nas pessoas em situação de rua. Elas me ensinaram que as regras que um dia quiseram abolir, ou a alienação que deixaram para traz, ou a lei das quais elas fogem, as deram a possibilidade de conhecerem uma nova liberdade construída em cada grupo que sobrevivem em suas leis próprias. Mas estas nem sempre são regras marginais por estarem a margem da nossa vã visão de mundo.
Enfim, assim amplio para enfatizar que o princípio da humildade ratificada com o trabalho psicossocial e jurídico, tríade essencial usada ao menos no meio socioassistencial, jurídico e de direitos humanos precisa ser enfatizada em nossa atuação, pois muitos são apenas multidisciplinar e quase sempre não funcionam como equipe: são apenas mero sintoma de jogo egoísta e medíocre em perfeita perda de qualidade de serviço ofertado; um visível aumento da revitimização das violências que atingem não apenas aos que nos procuram, e o pior manutenção da miséria humana.
Digo isso de tino certeiro, pois ao ser incluído em um serviço público para atender a pessoas idosas vítimas de violação de direitos humanos pela Secretaria Executiva de Justiça e Direitos Humanos de Pernambuco percebi que não só estávamos errados em pensar que sabemos algo de cada caso que nos é demandado, e em especial, somos apenas chamados para unificar a percepção do mundo daquela pessoa idosa a sua família em um contexto deles sociohistórica e em conflito perene com a lei e o Estado. As pessoas idosas são ricas em cultura imersa a uma visão do mundo muito peculiar. Nada sabemos até que eles, que quase nem precisão serem estimulados, derramam em nós suas últimas esperanças parecendo sermos as únicas pessoas que realmente as ouviram, clamam por serem escutadas para se libertarem apenas do silêncio latente em sua dor.
Mas mesmo assim apenas saberemos parte daquele sofrimento, pois em cada membro tem estampada a agressão de viver. Mas aquilo, por ele declarado, não só são apenas dores, são, necessariamente, o que eles já não sentem e por isso denominam.
Ai está o trabalho que cabe a equipe interdisciplinar: poderia muito ao se valer ao contribuir com a pessoa acolhida a nomear sua atual dor, para além daquela demandada. Pois essa já não tem mais carga de alimentar a não cultura de paz. Porém, se a tal equipe que se alimentada por vícios e outros sofrimentos for composta por uma maioria egoísta podem nem acolher o caso, apenas encaminhar fazendo a pessoa em questão de objeto o des- personificando. E o problema não está em encaminhar, pois como dizem a demanda é da rede, mas sim, como encaminhar: sem empoderar o usuários de seus direitos e deveres; sem relatório e o pior apenas afirmar não é aqui, vá acolá?
Bem, essa reflexão foi trazida após ter ido participar do lançamento de um livro do qual estou como coautor, Intervenções Psicossociais no Âmbito Jurídico de organização da minha amiga e mobilizadora de uma humanidade maravilhosa a Sra. Ludimila Assis, que ocorreu no Shopping Rio Mar, na Livraria Cultura.
E naquela noite de autógrafos e conversas com os expoentes percebi a necessidade de pensarmos sobre a nossa intervenção e como poderíamos ampliar a qualidade de nossas intervenções às pessoas, pois para elas, a quem nós estamos atuando em equipes interdisciplinares. E, eu diria mais: estamos contribuindo para uma cultura de paz em sociedade que não sabe mais denominar o que é paz, amor. E o que dizer da altruísmo, alteridade, empatia.
Portanto, somos frutos de pouca resiliência e por isso, talvez, estamos contribuindo para isso,  -  quando não percebermos que despersonificamos  a pessoas quando as atendemos sem a devida respeitabilidade – para uma sociedade mais alienada e alijada de sua soberania.

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